NOVA XAVANTINA – MPMT realiza reunião pública para discutir os impactos ambientais no Pantanal do Araguaia

Apesar de o Pantanal Mato-grossense, localizado na região de Poconé, ser conhecido mundialmente pela sua importância e exuberância de fauna e flora, o que poucos sabem é que Mato Grosso conta com outra grande planície alagável: o Pantanal do Araguaia, pouquíssimo conhecido e estudado. Em razão da sua relevância e do alto índice de degradação que vem sofrendo, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso, por meio da Procuradoria de Justiça Especializada em Defesa Ambiental e Ordem Urbanística, realizou no dia 31 de agosto, em Nova Xavantina, reunião pública de sensibilização e defesa das áreas úmidas do Araguaia.

O evento, realizado na Praia do Sol, às margens do Rio das Mortes, reuniu cerca de mil pessoas, entre promotores de Justiça, prefeitos de 10 cidades da região do Araguaia, indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, produtores rurais, acadêmicos e moradores em geral, para discutir o problema que, de uma forma ou de outra, afeta a todos.

Além da heterogeneidade de ambientes, a localização geográfica do Pantanal do Araguaia tem sido apontada como fator de expressiva influência sobre a elevada riqueza de espécies. O ecossistema, conforme o doutor em ecologia Ben Hur Marimon-Junior, se localiza em área de tensão ecológica entre os biomas Cerrado e Floresta Amazônica, resultando em grande mosaico vegetacional, que também influencia diretamente na composição da fauna e flora.

De acordo com a professora da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), Beatriz Schwantes Marimon, a área do Pantanal do Araguaia tem papel fundamental, pois está dentro de um sistema que é regulado por dois rios importantes da região: Rio Araguaia e Rio das Mortes. “Esses rios já estão pedindo socorro há muitos anos, o Rio Araguaia, por exemplo, está colapsando. Estudos seríssimos apontam que ele não dura mais 50 anos, que vai desaparecer e isso é um processo em cadeia”, explica.

Ela ressalta que o rio está com níveis muito baixos, vegetações que dependem altamente desta inundação começam a ser afetadas, árvores adaptadas a ambientes úmidos estão enfrentando ambientes muito secos e morrendo. “Estas árvores adaptadas começam a morrer e junto com isso vem outro efeito muito mais perverso: as queimadas. Hoje o desmatamento já não é um problema tão grande, às vezes se fala muito em desmatamento, mas o problema maior que afeta estas áreas é o fogo. As áreas úmidas não têm proteção e adaptação nenhuma, às vezes basta passar um evento de fogo para que estas florestas alagáveis do Pantanal do Araguaia desapareçam completamente”.

Pensamentos diferentes – De acordo com o titular da Procuradoria de Justiça Especializada em Defesa Ambiental, procurador de Justiça Luiz Alberto Esteves Scaloppe, a reunião pública busca integrar pensamentos, interesses econômicos e culturais diferentes para discutir um tema de tamanha relevância, que são as áreas úmidas. “É o Ministério Público cumprindo a sua missão diante de um grande coletivo de representatividade e distintas opiniões, para que possamos construir uma perspectiva de defesa, tanto da cidade sustentável, quanto da utilização da água. As reuniões são essa tentativa de alargar a atuação do Ministério Público e melhorar a sociedade”, defende.

Ele destaca que as áreas úmidas são um grande reservatório, um sistema de controle hídrico. “Mas porque nós começamos a agir no Ministério Público? Porque as iniciativas privadas estão começando a degradar este ambiente, tanto aterrando nascentes, quanto drenando terrenos. Isso afeta o equilíbrio hídrico, destrói fauna e flora únicas. Por causa de algumas sacas de soja ou um pasto a mais destrói-se uma riqueza imensa. Temos que despertar consciências, isso é um longo trabalho”, acredita o procurador de Justiça.

Conforme a professora Beatriz Schwantes Marimon, a destruição de áreas úmidas como o Pantanal do Araguaia provoca impactos não só apenas no local, mas até mesmo em outros países. Este é o caso das aves migratórias que saem dos Estados Unidos na época do inverno para virem passar o verão na região do Araguaia. “Se essas aves encontram a área sem floresta, queimada e colapsada elas ficam confusas e muitas vezes acabam morrendo porque não conseguem seguir seu rumo”, explica.

O avanço da agricultura na região, principalmente com o plantio da soja, tem impactado fortemente as áreas úmidas do Araguaia, tendo em vista que para plantar este tipo de grão é preciso drenar o solo, causando um imenso desequilíbrio ambiental.

“Infelizmente alguns produtores rurais, claro não são todos, estão trocando a pecuária extensiva dos varjões tradicionais pela soja. Para dar certo este tipo de plantio os produtores têm que drenar as áreas úmidas porque a soja não produz em terreno alagadiço, com isso, estão drenando as nossas nascentes, as nossas áreas úmidas, ou seja, o Pantanal do Araguaia e isso é muito preocupante”, destaca a promotora de Justiça Maria Coeli Pessoa de Lima.

Populações indígenas – A drenagem do solo, o uso desenfreado de agrotóxicos, o assoreamento dos rios, a escassez da caça e da pesca tem afetado fortemente as comunidades indígenas da região. Durante a reunião mais de 30 pessoas, dos mais diversos segmentos, se inscreveram para falar, entre eles o cacique José Guimarães Suméné Xavante, líder da aldeia Ripá, uma comunidade da etnia xavante que fica no Território Indígena Pimentel Barbosa, em Canarana, Mato Grosso.

“Os rios estão baixos, não tem peixe, falta caça para alimentar a aldeia. As fazendas estão crescendo para todos os lados, o uso de agrotóxico está aumentando e tudo isso afeta a nossa vida. É preciso fazer alguma coisa antes que seja muito tarde”, afirmou o cacique que, junto com um grupo de índios xavantes apresentou a “Dança da Guerra e da Caça”.

Representando mais de 5 mil índios – do povo Carajá – que residem na Ilha do Bananal – a maior ilha fluvial do mundo, com uma área de aproximadamente 25.000 km², na divisa do Tocantins com os estados de Goiás e Mato Grosso – Samuel Harewana Karajá também relatou os problemas enfrentados pelo seu povo. “Os rios estão secando, os peixes estão morrendo, muito animais estão desaparecendo, a cabeceira do rio Araguaia está sendo desviada e o rio está ficando assoreado. Nós indígenas olhamos para a natureza e nos sentimos parte dela, todos fomos criados junto com o meio ambiente, por isso cuidamos dele. Todos nós, indígenas e a sociedade não indígena temos que entender que essas áreas úmidas são importantes para todos nós, independente da raça e cor, todos vamos sofrer as mesmas consequências, os mesmos problemas com a falta de água”.

Por JANÃ PINHEIRO/ MPMT

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