Por Gaudêncio Torquato
Coisas do Brasil
Um sujeito comprou uma geladeira nova e para se livrar da velha, colocou-a em frente a casa com o aviso: “De graça. Se quiser, pode levar”. A geladeira ficou três dias sem receber um olhar dos passantes. Ele chegou à conclusão: ninguém acredita na oferta. Parecia bom demais pra ser verdade. Mudou o aviso: “geladeira à venda por R$ 50,00”. No dia seguinte, a geladeira foi roubada! (Historinha enviada por Álvaro Lopes)
Azevedo abrindo tensões
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, pediu o boné. Maneira de dizer que foi demitido. Surpresa. Não se esperava sua saída. Abrupta. Nota do Ministério: “Agradeço ao presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como ministro de Estado da Defesa. Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituição de Estado. O meu reconhecimento e gratidão aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira”. Ontem no fim da manhã, o Ministério da Defesa soltou uma nota dizendo que os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica serão substituídos. O comunicado dá a entender que a ordem veio de cima. Mas vale ainda a hipótese de terem pedido demissão. Os substitutos serão mais alinhados ao bolsonarismo? Vamos acompanhar sua trajetória.
A mexida
Mexer no Ministério nesse momento crítico que o país atravessa exige cautela, leitura adequada da moldura político-institucional, sensibilidade. E, sobretudo, consciência dos impactos da mexida em cada setor. No ambiente das Forças Armadas, a saída do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa, seguida da saída dos três comandantes das Forças, azedou o ambiente. E a eventual confirmação dos motivos abrirão pontos de tensão. Comenta-se que o ministro não teria demitido o comandante Edson Pujol, do Exército, pois não estaria fazendo uma gestão ao gosto do presidente Bolsonaro. Pujol sempre se manifestou contrário ao papel político das Forças.
Centrão com força
A escolha da deputada Flávia Arruda (PL-DF) para a área da articulação é um gol do Centrão. Emplaca mais um dos seus quadros. A deputada é casada com o ex-governador do DF, José Roberto Arruda. Vai ser questionada. Mas tem a proteção de Arthur Lira, presidente da Câmara. André Mendonça desce de posto, deixando o Ministério da Justiça para a Advocacia-Geral da União, de onde saiu. Mas poderá subir mais adiante, chegando ao Supremo. Anderson Flores, da PF, ascende ao Ministério da Justiça. Teria o apoio da “bancada da bala”. O general Braga Neto, na Defesa, seria uma forma de harmonizar o ambiente conturbado. E a entrega da Casa Civil ao seu colega de turma na AMAN, general Luiz Eduardo Ramos, Bolsonaro tenta deixar no entorno gente de confiança. Mas a marca dessa mexida sinaliza para as bases. O presidente Jair dá guarida ao seu clamor. Esse ministério estará no olho do furacão quando a campanha pré-eleitoral se iniciar.
Ernesto e sua ideologia
A saída do ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro significa um baque da ideologia de extrema direita que tenta fincar estacas no país e que tem no então chanceler um de seus pilares. Ernesto Araújo fechou fronteiras do multilateralismo, desdenhou das vacinas, isolou o Brasil da modelagem diplomática internacional e, como fecho de sua desastrada atuação no MRE, brigou com a área política. Sua saída era previsível a partir dos recados dados pelos presidentes da Câmara e do Senado. Há dias cerca de 300 diplomatas, em carta, pediam sua demissão. A tarefa do novo chanceler, mesmo que seja identificado com o bolsonarismo, será a de recompor as pontes destruídas no campo das relações internacionais. O novo chanceler, embaixador Carlos Alberto França, é comedido.
Saúde
O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem reuniões diárias com entidades e políticos. Muitas falas e pouca ação. Deveria, sim, estar na linha de frente, em hospitais, nas UPAs, vendo a tragédia que se espraia.
De fora
Triste notícia: o Brasil fica de fora de pacto internacional contra a epidemia.
Sem rumo
O governo Bolsonaro parece um dândi na escuridão. Procura um rumo. Guedes defronta-se com a questão do orçamento, inflação que sobe, perda de quadros. Auxílio emergencial abaixo das expectativas. Mesmo assim, mostra ainda certa esperança. Mas está angustiado com a situação. Pandemia no pico. Clamor da população sobe o tom. Bolsonaro preocupado com o Congresso. Perdeu a narrativa na frente da pandemia. Nomeou um Comitê, do qual não é o coordenador. A nau parece sem rumo. À procura de uma bússola.
O jogo vai começar
Os jogadores ainda estão no campo de treinamento. E os times começam a providenciar chuteiras e novos uniformes. Alguns começam a treinar imaginando que serão selecionados pelo técnico para compor o time. Outros já sabem que estarão no banco de reserva. E ainda um grupo de jogadores já sabe que só entrarão no jogo de final de campeonato se houver contusão de parceiros. O jogo é o campeonato eleitoral brasileiro, cujo final será disputado em outubro de 2022. Analisemos o panorama.
Calendário I
O jogo eleitoral tem um calendário, que nem a crise sanitária tem força para mudar, eis que tem data fixa para terminar. Sabemos que, por aqui, o processo eleitoral é ininterrupto. Termina um pleito e, no dia seguinte, começa outro. Esse fenômeno acaba deixando o país amarrado no tronco do patrimonialismo, pois os protagonistas só pensam em chegar ao poder central, desprezando agendas prioritárias e fechando os olhos para as grandes carências sociais.
Calendário II
Por isso, pode-se aduzir que estamos no estágio de pré-campanha, quando os nomes aparecem, alguns como balão de ensaio, para se conferir sua receptividade na opinião pública. As primeiras articulações se iniciam, prevendo-se interlocução que vai se fechando ao correr do ano até se compor a moldura com os mais prováveis jogadores. No final do ano, o corpo político, sondando suas bases, firma suas ideias, confirma ou desfaz impressões, compromete-se com alianças, enfim, junta os elementos para finalizar, até abril/maio de 2022, sua visão. A campanha terá início nesse tempo.
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