A solução do Caso Marielle (e da impunidade)…

Apesar da demora de seis anos para identificar e prender os supostos mandantes e engendradores, é exemplar o desfecho das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle  Franco e do seu motorista Anderson Gomes. A tardia federalização dos trabalhos, que só ocorreu em razão do surgimento de envolvidos portadores de foro privilegiado e de alto poder no cenário político-policial carioca, retirou o crime da galeria dos insolúveis e felizmente tende a configurar um duro golpe na endêmica impunidade, que tanto mal tem causado ao Brasil e aos brasileiros. Para desapontamento geral e justificada revolta dos familiares das vítimas, ficou claro que durante todos esses anos, a raposa foi a encarregada de tomar conta do galinheiro e deu no que deu.

Revigorada, a comunidade espera que o avanço dos trabalhos traga as devidas luzes sobre o caso e afaste as possíveis incertezas. Não faltem provas efetivamente consistentes sobre  a participação de cada um dos acusados – tanto os já conhecidos quanto os que ainda venham a ser identificados – e que todos tenham o mais límpido direito de defesa e o mais justo julgamento.

Para curar a chaga decorrente da execução da vereadora e seu motorista é preciso mais do que a apresentação dos acusados. A Nação tem o direito e às autoridades o dever de divulgar os pormenores da trama, bem como esclarecer a participação detalhada  de cada envolvido, além da certeza de sua veracidade para poder, ao final dos apenhamentos, sentir-se redimida e segura. Há que se apurar o que praticou cada réu, localizar e entregar à Justiça todos os integrantes da empreitada criminosa, desde o mais até o menos culpado.

Não é difícil o povo crer que os mesmos que fizeram parte da eliminação de Marielle, assim como seus asseclas e comunicantes possam também ser os matadores de dezenas, talvez centenas de vítimas da triste realidade político-policial brasileira dos últimos anos e – o pior – estarem vivendo na condição de cidadãos de bem, portadores de prestígio e autoridade e titulares de polpudos salários pagos pelo dinheiro público que, além da impropriedade para as funções, ainda estavam  usando seus cargos e prestígios para fortalecer ainda mais o crime organizado.

Embora não traga Marielle e Anderson de volta, a rigorosa apuração dos envolvidos e a sua justa reprimenda legal deverão servir para acalmar o coração das famílias e encerrar o episódio da vida desses dois mártires da sociedade.

Mas, o modus-operandi e a frieza identificada em todo o processo constituem algo desconfortável e suscitador de muitas desconfianças em instituições cuja gênese é justamente o crédito que desfrutam junto à Sociedade. Oxalá esse tardio derrubar da casa da impunidade sirva de exemplo e combustível para localizar, prender e apenar executores e mandantes de outros crimes que vitimaram e abreviara m as vidas de brasileiros, importantes ou anônimos, perecidos em todos os quadrantes deste País, cujos responsáveis ainda permanecem cobertos pelo manto da impunidade. Todo crime não esclarecido é uma fissura no tecido social e constitui atraso para todos nós. Cada vida perdida é uma lesão na alma de todos os brasileiros.

Ao mesmo tempo em que louvamos os esforços e o resultado do caso Marielle-Anderson, não conseguimos esquecer que entre as centenas (ou milhares) de crimes há, pelo menos mais um de tanta magnitude e repercussão cuja Nação clama por solução. O caso da facada recebida pelo então candidato Jair Bolsonaro quando em campanha em Juiz de Fora(MG). Acima de preferência ou posicionamento político-partidário ou ideológico,   todo brasileiro tem a curiosidade de saber o que moveu e principalmente quem sustentou o esfaqueador Adélio Bispo na sua jornada de perseguição ao então candidato presidencial. Não basta mantê-lo encarcerado indefinidamente. É necessário lançar luzes sobre os fatos e esgotar o assunto, com a produção de provas irrefutáveis de que a ação teria sido um ato movido exclusivamente por uma  provável insanidade mental ou, obra de quem, por alguma razão, tenha potencializado e aproveitado seus ânimos para cometer o crime. A lei é clara sobre como proceder numa ou na outra alternativa ou até sobre uma terceira, caso seja apurada.  É indispensável punir os responsáveis deste e dos demais crimes para, acima de tudo, evitar que se repitam e produzam mais vítimas, sofrimento e instabilidade…  
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 Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 
tenentedirceu@terra.com.br

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