Crônica: Verrugas Estelares

Rodrigo Alves de Carvalho

Quando eu era pequeno gostava de contar estrelas. Deitava no meio do quintal e olhava o céu escuro repleto de pontinhos brilhantes. Começava a contar em um determinado ponto e quando parava, geralmente por ser tarde da noite e tinha que entrar para dormir, continuava contando no outro dia de onde tinha parado.

Era uma inocente mania que eu tinha, já que não havia nada melhor para fazer.

Mas um dia, ou melhor, uma noite, minha mãe me flagrou com o dedo para cima contando estrelas e me repreendeu:

– Menino! Pare de ficar contando estrelas porque nasce verruga na ponta do seu dedo!

Daquela noite em diante minha vida nunca mais foi a mesma.

Eu ficava imaginando como o simples ato de apontar para estrelas e conta-las poderia causar protuberâncias calosas nas pontas de meus dedos? Qual era a ligação cósmica que haveria entre estrelas-dedos-verrugas?

Não tive outra saída a não ser buscar respostas a essas intrincadas questões, e quando me tornei adulto pude sair de casa à procura de respostas.

Visitei um famoso astrônomo chamado Aristarco e levei minhas indagações.

O experiente astrônomo ficou perplexo. Essa teoria era completamente nova para ele. Nunca havia feito tais analises astronômicas para a possibilidade de uma verruga nascer na ponta de um dedo somente pela indicação de um astro brilhante no Cosmo.

Uma junta de cientistas foi convocada para formularem teorias sobre o caso das “Verrugas Estelares”.

No final das pesquisas os inteligentíssimos cientistas teorizaram que a verruga poderia ser causada por ondas eletromagnéticas emanadas dos astros que causavam modificações no DNA humano ocasionando verrugas em pontos mais próximos ao astro emanador (no caso a ponta do dedo).

A pesquisa foi publicada na “Science”, uma das mais prestigiadas revistas cientificas do mundo e o professor Aristarco foi indicado ao Prêmio Nobel de Física.

Depois de comprovado a relação estrelas-dedos-verrugas, voltei para casa satisfeito em adquirir conhecimento e ter respostas às minhas perguntas.

Entretanto, agora estou indignado e não consigo entender por que em tanto tempo sem contar estrelinha nenhuma no céu, sem nunca mais apontar os dedos ou qualquer outra parte do corpo para qualquer objeto iluminado na noite… foi nascer essa horrível verruga bem na ponta do meu nariz?!

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

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