Águas que vão…

Foto por: Arquivo CBH Alto Araguaia

A sabedoria popular, expressão do saber proveniente da relação com a natureza, tão valorizada no meio rural e em locais desprovidos do acesso rápido ao consumo. Era a fonte de orientação e de decisão que as comunidades mais detinha. Com o avança das comunicações, dos mercados de consumo e da própria ciência fez-se necessário a garantia do embasamento técnico para se obter uma conclusão.

Incompreensível “Tempo Novo” que tanto cobra preceitos científicos testados para dar valor agora as observações antigas dos “matutos” do campo quando diziam “o clima está mudando”. Publicada em 10 de maio do corrente ano, o artigo da equipe da UFMG liderada pelo engenheiro florestal, Argemiro Teixeira Leite-Filho na revista científica Nature Communications que ao logo de 20 anos monitorou a quantidade anual de chuva em regiões de Rondônia, norte do Mato Grosso e sul do Pará indicou que as áreas mais atingidas pela redução da precipitação são grandes produtoras de grãos.

Entre os vários serviços do ecossistema florestal, a regulação da chuva é a chave para sustentar a agricultura na região e além, onde uma parte importante da soja/milho e da carne bovina do Brasil é produzida. As evidências crescentes de pesquisas empíricas e baseadas em modelos indicam que a floresta amazônica influencia os padrões espaço-temporais e a quantidade de chuva. Na medida que a perda florestal se acumula, os impactos nos padrões de chuva podem afetar criticamente a agricultura, especialmente no sul da Amazônia brasileira, onde as perdas florestais já chegam a 30%, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais – INPE.

O agronegócio brasileiro e seus parceiros globais estão testando os limites da natureza ao se expandir para as florestas naturais, sob o risco de reduzir as chuvas que sustentam sua produtividade. A trajetória atual do uso da terra na Amazônia brasileira, portanto, coloca os sistemas agrícolas predominantemente de sequeiro do país em um caminho insustentável. Região de Rio Verde/Jataí (GO) Primavera/Sorriso (MT) teve quebra significativa de produção pela diminuição das chuvas, bem como, na região sul e sudeste. Efeito dos menores volumes de chuvas dos “rios voadores da região amazônica”.

A defesa do Meio Ambiente se faz pela autoridade do Estado e pelas Leis constituídas. Em caso recente, o atual ministro de meio ambiente, Rogerio Salles, demonstrou maior envergadura e empenho na defesa de madeiras apreendidas do que na operacionalidade da fiscalização realizada pelo IBAMA. Estamos num quadro caótico de representatividade. Na semana do meio ambiente a melhor notícia seria sua exoneração. A sabedoria popular diria: “Para bom entendedor meia palavra basta”.

Clodoaldo Carvalho Queiroz
Pres. Comitê da Bacia do Alto Araguaia

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