A credibilidade da pesquisa eleitoral

A minuta do novo Código Eleitoral, em tramitação na Câmara dos Deputados, pretende estabelecer um “percentual de acerto” no resultado das pesquisas eleitorais e impor restrições à sua divulgação. A matéria devera ser votada em breve. Chama a atenção o número de pesquisas e consultas populares produzido Brasil afora nos últimos meses, sobre as eleições presidenciais que acontecerão só daqui a 15 meses. Longe de duvidar dos bons propósitos ou da capacidade dos realizadores. Mas, com tanta antecedência, torna-se difícil prever qual será o quadro vivido pelo país na época em que o eleitorado for chamado a se manifestar. Pesquisa é um “retrato do momento” e ele pode modificar-se em questão de horas, dependendo do impacto dos acontecimentos que envolverem seus personagens. Da mesma forma que confiamos, podemos também supor que o expediente da pesquisa não pretende aferir a tendência do eleitorado, mas apenas usá-la como instrumento de campanha antecipada para qualquer dos possíveis concorrentes.

A uma distância tão grande do evento a pesquisar, não existem variáveis seguras para orientar o levantamento. Não temos sequer os candidatos, embora saibamos que Bolsonaro, por estar no mandato, deve ser um deles, embora isso não seja obrigatório, e que Lula se apresenta como o seu oponente, se puder continuar contando com os benefícios recebidos do Supremo Tribunal Federal, que anulou suas condenações, mas não invalidou os processos. Hoje a oposição luta pelo impeachment de Bolsonaro e, como o STF o soltou e anulou as sentenças mas não encerrou os processos, Lula poderá ser novamente condenado e voltar à inelegibilidade. Qualquer desses eventos alteraria profundamente o quadro. Quanto aos demais, não passam de suposições, alguns já perdedores de pleitos anteriores ( exemplo de Ciro Gomes) e outros em busca de decolagem que enfrentam problemas até no próprio partido (como os tucanos João Dória e Eduardo Leite). Impossibilitados de voar com as próprias asas, outros pretendentes tentam construir a chamada terceira via, com um nome suprapartidário, algo difícil num ambiente político como o do Brasil atual, onde, conforme já dizia Jânio Quadros, “ninguém renuncia a nada”. Lembremos que Jânio renunciou à presidência da República e a crise que motivou seu ato extremo volumou-se.

Os números que se têm divulgado a partir das pesquisas – independente do formato em que foram realizadas – são inconsistentes porque atribuem a um mesmo pretendente vitória e derrota e números que vão de 6% até 80% da “preferência popular”. Logo, não oferecem massa crítica para raciocínio e nem a segurança evidente de não manipulação do que está pensando o eleitor. Para analisar esses resultados é preciso, pelo menos, verificar as perguntas aplicadas aos pesquisados e as questões político-ambientais do momento. Qualquer barra forçada ou acontecimento extraordinário pode, facilmente, tirar o povo do seu raciocínio normal, que volta a vigorar depois de passado o impacto do evento.

As pesquisas, a essa altura, devem ter mais utilidade interna. Realizadas com critério, poderão orientar os partidos e seus pretendentes a candidato quanto às suas possibilidades de sucesso. Levá-los a colocar o próprio nome à apreciação do eleitorado ou a fazer alianças com quem tenha mais condição de encabeçar uma chapa e, talvez, constituir a hoje especulada terceira via para se contrapor às candidaturas rotuladas como de direita e de esquerda. Importante lembrar que, no controvertido e passional quadro eleitoral brasileiro, os institutos de pesquisas têm tido grandes problemas para prever o resultado das eleições, mesmo executando as consultas quando as campanhas já se encontram na reta de chegada e o eleitor está praticamente definido. Os institutos são frequentemente contestados, justa ou injustamente. E depois de conhecidos os resultados, vêm as justificativas. Os políticos, os partidos e até os pesquisadores precisam se reinventar, para não desaparecer.
(Tenente Dirceu
Cardoso Gonçalves)

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