Defensora revela ameaças por fechamento do comércio em Barra do Garças

Defensora pública Lindalva Fátima Ramos fala sobre atuação da Defensoria Civil de Barra do Garças em relação à Covid-19 - Foto por: Bruno Cidade

Lindalva de Fátima Ramos diz que sede da Defensoria foi cercada após decisão que determinou fechamento do comércio em Barra do Garças.

Allan Mesquita/FolhaMax

A defensora pública de Barra do Garças (a 411 km de Cuiabá), Lindalva de Fátima Ramos, revelou em entrevista exclusiva ao site FolhaMax ter sofrido uma série de ameaças de moradores e empresários após ajuizar uma ação para que a prefeitura de cidade cumprisse as restrições comerciais impostas pelo Governo de Mato Grosso em razão da Covid-19. Segundo ela, populares ameaçaram invadir sua residência após a Justiça impor o fechamento das atividades não essenciais no município no último mês.

“A decisão foi prolatada na quarta à noite, quando foi na quinta, vários comerciantes de serviços não essenciais que teriam que fazer só delivery fizeram uma comissão no WhatsApp e começaram a programar uma passeata, na sexta-feira à tarde, houve uma ameaça de invadir minha casa”, contou.

Lindalva explicou que a situação ocorreu no último dia 17 de julho, quando o juiz da Vara Estadual da Saúde Pública, José Luiz Leite Lindote, impôs restrições comerciais no município, que na época estava classificado no nível de alto risco de contágio, pelo sistema de análise da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT). A decisão atendeu o pedido da defensoria e do Ministério Público da cidade após o prefeito Roberto Farias (PSD) se recusar a atender o decreto estadual.

“Quando saiu a tentativa de audição de conciliação virtual com o prefeito, nós não conseguimos entrar num consenso. Ele argumentava que não era possível entrar nas normas do decreto estadual com as recomendações não farmacológicas. Uma coisa é você ver a saúde pública do lado de fora, outra coisa é você ver pelo lado de dentro no dia a dia”, complementou.

Após a imposição, o Lindalva explicou que o gestor municipal promoveu uma live no Facebook, o que teria alimentando a “ira” dos comerciantes contra ela e o MPE. Segundo ela, a atitude de Farias foi “infeliz”.

“Eu acho que o prefeito foi apenas infeliz numa colocação que ele fez em uma live, antes da passeata, tentando explicar a decisão da justiça. Na transmissão, ele falou que ‘essas duas senhoras’ [defensora e promotora] tem que se explicar, ele repetia isso. Eu não digo que ele fez de propósito, mas talvez foi a forma dele não saber se expressar”, afirmou.

Com isso, os lojistas “fecharam o cerco” na porta da Defensoria Pública. Na ocasião, Lindalva detalhou que chegou a conversar com os manifestantes, mas algumas pessoas utilizaram trechos de seu pronunciamento para propagar “fake news” nas redes sociais.

“Algumas pessoas gravaram e pegaram partes das minhas falas e foram desvirtuando palavras para colocar nas redes sociais. Pegavam o contexto de minhas falas e jogavam na mídia de forma distorcida. Eu fiquei muito abalada, porque nunca tinha sido achincalhada em rede social. Colocaram fotos minhas falando que eu era marajá. Foi mais uma violência psicológica e imoral”, lamentou.

As medidas restritivas vigoraram na cidade por apenas quatro dias. Isso porque, na semana seguinte, o governador Mauro Mendes (DEM) editou um novo decreto liberando as atividades e serviços não essenciais em todo Estado.

Por meio de nota, a Associação Mato-grossense das Defensoras e Defensores Públicos (Amdep) repudiou a tentativa de intimidação diante da atuação da Defensora durante o período de pandemia da Covid-19. Já Lindalva, preferiu tratar a situação como um “caso isolado” e diz respeitar qualquer tipo de manifestação, desde que seja pacífica.

“Eu não quis ir atrás, nem tomar nenhuma previdência contra ninguém. Eu acho que todo mundo tem o direito de se manifestar desde que seja um manifesto lícito e pacífico. Eu jamais vou ser contra”, concluiu.

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