Precisamos restaurar o orgulho de nossos professores

Professor: profissão das mais nobres, cujo exercício no passado era motivo
de extremo orgulho, respeito e apreço. Pois bem; pelo que temos visto, não é
mais assim. Hoje a profissão passa longe dos sonhos da maioria de nossos
jovens. Por que tamanho desdém pela arte responsável por transmitir o saber
que nos possibilita abrir a janela para o mundo? Podemos enumerar diversas
razões, mas a que mais me chama atenção – e do Censo Escolar também – é a
desvalorização profissional em todos os aspectos. E não estou falando apenas
do aspecto financeiro.

A pesquisa “Profissão Docente”, realizada pelo Ibope Inteligência e
divulgada recentemente, comprova o que estou dizendo. Dos 2160 professores
de educação básica ouvidos, 33% afirmaram estar totalmente insatisfeitos com
a profissão. O motivo mais citado? A desvalorização profissional. Ela é
tanta que quase metade desses docentes não recomenda a própria atividade
para um jovem. Os outros motivos também não são novidade: excesso de
trabalho, falta de reconhecimento e baixa remuneração. Infelizmente, esses
fatores só reiteram a quão menosprezada vem sendo a arte de educar em nosso
país.

Os professores são fundamentais na nossa formação enquanto cidadãos
pensantes e essa depreciação tem efeitos no desenvolvimento do Brasil. A
falta de uma política de investimentos na área pode estagnar ou atrasar um
país, uma vez que uma nação não pode ser considerada social e economicamente
desenvolvida sem ter um padrão educacional decente. O educador precisa ser o
elemento central de um plano de gestão que valorize a educação. Ele precisa
ser ouvido, pois é quem faz o dia a dia, conhece seu público e todas as
peculiaridades das áreas em que atua. Ele precisa ser tratado com dignidade,
pois é o principal agente transformador, motivador e passível de referência
para seus alunos. É preciso valorizar essa atividade, uma vez que ainda
temos pessoas apaixonadas pela arte de ensinar. A pesquisa citada acima
comprova nossa percepção quando aponta que a maioria daqueles que decidiram
continuar na carreira o fizeram pelo prazer de transmitir conhecimento.

Disseminar essa paixão, porém, tem sido difícil, admito. O problema começa
ainda nos anos de formação básica do futuro docente que, uma vez aluno de
uma escola pública, como 80% dos estudantes brasileiros hoje, sofre com a
falta de professores especializados. Quantas histórias ouvimos de alunos que
nunca tiveram aula de geografia, física ou química. Mesmo nestas condições
precárias este aluno se torna professor movido somente pela vontade de fazer
diferente, de levar aos alunos algo que ele não teve. Ele geralmente inicia
sua carreira também em escolas públicas e se depara com uma vasta dimensão
de desafios inerentes ao outro lado da carteira. A baixa remuneração, que
faz com que ele tenha que complementar sua renda; a falta ou atraso no
repasse de recursos; estruturas de trabalho sucateadas, que não oferecem
espaços e materiais adequados para desenvolver as atividades que tanto
ansiou em tirar dos livros que passou anos estudando. Ao longo dos anos, a
motivação vai por água abaixo; o dia a dia estressante finda com o sonho e
ele acaba por procurar emprego em outras áreas ou fora do país.

Sobreviver no magistério é difícil no Brasil, mas tem solução. Não se
sobrevive por mágica, mas a receita é simples. A meu ver, programas de
educação continuada alinhados à realidade escolar e ao cenário tecnológico
que vivemos são os pontos-chave. Em todo o país, e não só nas zonas mais
carentes como se pensa, há profissionais com déficit de conteúdo e eles têm
consciência disso. Tanto que 76% dos participantes da pesquisa acreditam que
é necessário, sim, passarem por atualizações frequentes. A implantação da
nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que vem como a grande promessa
para uma nova era na educação brasileira, já bate à nossa porta e o que tem
sido feito para qualificar os docentes?

A educação mudou, os meios mudaram e o conteúdo a ser transmitido precisa
acompanhar tudo isso. O Brasil tem quase 50 milhões de alunos matriculados
em pouco mais de 180 mil escolas particulares e públicas e é o professor
quem vai preparar esses jovens para mudar a sociedade. A qualidade da
educação só vai melhorar quando se investir na melhoria da qualidade dos
professores.

David Marcelo P. Berto é coordenador do Programa Línguas Estrangeiras da
Planneta Educação, uma empresa do grupo Vitae Brasil. Graduado em Letras
pela Faculdade Anhanguera de Taubaté/SP, é tradutor-intérprete de Libras
pela IMOESC – Caçapava/SP, professor de língua inglesa, formador
internacional do método Kagan Cooperative Learning (San Diego University –
California/USA), palestrante da plataforma YouTube Edu sobre habilidades
socioemocionais na educação, além de especialista em construção de
identidade da sala de aula, identidade do grupo e aprendizagem baseada no
cérebro.

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